Como integrar IA e cibersegurança na transformação digital?

Publicado em: 03/06/2025
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Por Alexander Procaci, gerente de Segurança da Informação, Governança e Controle*

A transformação digital desencadeou uma onda de inovação inédita, exigindo que as empresas sejam mais ágeis e adaptáveis do que nunca. A incorporação de IA e outras tecnologias emergentes tornou-se uma estratégia essencial para atender a essas exigências. A IA tem sido essencial para líderes de tecnologia que buscam inovação e vantagem competitiva. Porém, com o avanço dessas tecnologias, surge também uma preocupação crescente: a segurança dos dados e sistemas.

A inteligência artificial tem se tornado indispensável na detecção e prevenção de fraudes, ao processar um volume massivo de alertas que seria inviável de gerenciar manualmente. Com o uso de aprendizado de máquina é possível identificar e priorizar os alertas mais críticos de maneira eficiente. Diante do cenário atual der ataques cibernéticos a prevenção proativa é essencial. Isso reforça a importância de equipes de segurança cibernética altamente capacitadas e do uso de ferramentas avançadas de IA para antecipar e mitigar ameaças.

A cibersegurança, tradicionalmente tratada como uma camada de proteção para infraestruturas digitais, agora precisa ser integrada de maneira estratégica à jornada de transformação digital. Afinal, os riscos não são apenas financeiros, mas também reputacionais e operacionais.

A transformação digital e o papel estratégico da IA

A transformação digital deixou de ser uma iniciativa opcional para empresas que desejam prosperar. É um imperativo. Tecnologias baseadas em IA, como machine learning (ML), processamento de linguagem natural (NLP) e visão computacional, estão sendo adotadas para aprimorar praticamente todas as áreas de negócios. A seguir estão alguns exemplos práticos:

> Automação de Processos: Ferramentas de RPA (Robotic Process Automation) guiadas por IA estão transformando operações manuais e repetitivas em fluxos automatizados. Isso aumenta a eficiência operacional e reduz erros humanos.

> Análise Preditiva: Setores como finanças e varejo estão usando IA para prever tendências de mercado e comportamentos de consumo, permitindo decisões baseadas em dados em tempo real.

> Experiência do Cliente Personalizada: Empresas de e-commerce e serviços utilizam IA para oferecer experiências altamente personalizadas aos consumidores, aumentando as taxas de conversão e fidelização.

Essas inovações criam oportunidades extraordinárias para líderes de tecnologia, mas também introduzem novos vetores de risco, como ataques a sistemas automatizados ou manipulação de dados gerados por IA. Isso nos leva ao papel indispensável da cibersegurança.

IA e cibersegurança: uma relação simbiótica

A inteligência artificial tem transformado a cibersegurança de maneiras profundas e paradoxais. Enquanto habilita novas ferramentas para proteger ambientes digitais, ela também é utilizada como arma por agentes mal-intencionados. Tecnologias como deepfakes, ataques de phishing guiados por IA e malwares adaptativos demonstram como a IA pode ser explorada para fins prejudiciais. Isso torna evidente que a cibersegurança precisa não apenas acompanhar a evolução da IA, mas também integrá-la como parte fundamental de suas estratégias.

No campo defensivo, a IA tem revolucionado a prevenção e detecção de ameaças. Soluções baseadas em aprendizado contínuo, como EDR (Endpoint Detection and Response), monitoram redes em tempo real, detectando padrões anômalos e respondendo de forma quase instantânea a atividades suspeitas. Essa abordagem preditiva é muito mais eficiente do que métodos tradicionais, permitindo que empresas antecipem problemas em vez de apenas reagir. A Google deu um passo revolucionário na cibersegurança ao lançar a Iniciativa de Defesa Cibernética de IA, com o objetivo de transformar a segurança digital e enfrentar o conhecido “Dilema do Defensor”. A proposta utiliza inteligência artificial para reverter a dinâmica em que atacantes têm vantagens significativas, fortalecendo a proteção de sistemas e dados contra ameaças cada vez mais sofisticadas.

Com a automação cada vez mais presente nos processos empresariais, a segurança integrada à automação tornou-se indispensável. Um exemplo é a arquitetura de confiança zero, ou Zero Trust Architecture, que combina IA e automação para proteger cada acesso e interação em uma rede corporativa, independentemente de quem esteja realizando a solicitação. Empresas líderes, como a Microsoft, estão implementando sistemas baseados em machine learning capazes de ajustar políticas de segurança automaticamente, considerando o comportamento dos usuários e dispositivos. Essa combinação proporciona um nível de proteção altamente adaptável e eficiente.

Outro desafio emergente é garantir a resiliência dos modelos de IA. Sistemas de machine learning podem ser vulneráveis a ataques conhecidos como adversarial attacks, nos quais pequenas manipulações nos dados de entrada resultam em erros nos resultados. Para lidar com esse tipo de ameaça, as empresas devem adotar práticas rigorosas, como testes de robustez e auditorias frequentes de algoritmos, assegurando que suas soluções de IA sejam confiáveis e resistentes a manipulações.

A IA, ao mesmo tempo que potencializa a defesa contra ameaças, exige uma abordagem cuidadosa para evitar que se torne uma vulnerabilidade. A integração dessa tecnologia na cibersegurança é uma evolução necessária, mas deve ser acompanhada de estratégias que garantam tanto a proteção das infraestruturas digitais quanto a resiliência dos próprios sistemas de IA.

A necessidade de uma estratégia holística de segurança

A combinação entre inteligência artificial e cibersegurança exige mais do que a implementação de ferramentas ou tecnologias isoladas; ela demanda uma mudança de mentalidade por parte dos líderes empresariais. É imprescindível adotar uma estratégia holística de segurança, capaz de construir um ecossistema seguro e interconectado que envolva toda a organização e vá além do departamento de TI.

Para alcançar essa integração, o envolvimento de toda a empresa é um passo crucial. A cibersegurança não deve ser tratada como uma responsabilidade exclusiva da área de tecnologia, pois o uso generalizado de IA expõe todos os departamentos a potenciais ameaças. Criar uma cultura de segurança passa pela conscientização e treinamento contínuo de colaboradores, garantindo que cada pessoa entenda o papel que desempenha na proteção da organização.

Outro pilar essencial é a governança de dados, especialmente em um cenário onde as empresas utilizam IA para coletar e analisar informações em larga escala. Implementar políticas robustas de proteção contra acessos não autorizados é indispensável, assim como garantir conformidade com regulamentações como a LGPD no Brasil e o GDPR na Europa. Uma governança eficaz protege a integridade dos dados e reduz os riscos de violações.

A colaboração também desempenha um papel estratégico na criação de um ecossistema de segurança. Parcerias com provedores de tecnologia especializados em cibersegurança e IA permitem que as empresas se beneficiem das últimas inovações sem precisar desenvolver tudo internamente. Essa abordagem colaborativa acelera a implementação de soluções robustas e otimizadas, alinhadas às necessidades específicas de cada organização.

Por fim, o monitoramento contínuo e a análise de riscos são indispensáveis em estratégias de transformação digital. Soluções baseadas em IA oferecem análises preditivas que ajudam a antecipar ameaças antes que se tornem problemas críticos. Planos regulares de avaliação e monitoramento garantem que a empresa esteja sempre preparada para responder rapidamente a novos desafios de segurança.

Adotar uma abordagem holística, que envolva governança de dados, parcerias estratégicas, conscientização organizacional e monitoramento constante, é o caminho para integrar IA e cibersegurança de forma eficiente. Essa estratégia não apenas protege a organização, mas também fortalece sua resiliência e competitividade em um cenário digital em constante evolução.

Empresas que alinharam IA e cibersegurança com sucesso

> Amazon Web Services (AWS)

A AWS combina IA com segurança em suas soluções de nuvem. Ferramentas como Amazon GuardDuty usam machine learning para detectar atividades maliciosas em contas de usuários. O resultado é um ecossistema robusto que protege as operações de empresas em escala global.

> Banco Itaú Unibanco

No Brasil, o Itaú tem usado IA para otimizar tanto a experiência do cliente quanto sua postura de cibersegurança. O banco desenvolveu um sistema de autenticação inteligente, capaz de detectar tentativas de fraude em tempo real, enquanto mantém a experiência do cliente ágil e eficiente.

O futuro: IA e cibersegurança como fatores de competitividade

À medida que as empresas continuam a adotar a transformação digital, a combinação de IA e cibersegurança deixará de ser uma escolha estratégica para se tornar uma necessidade básica. No entanto, as organizações que conseguirem integrar esses elementos de maneira coesa terão uma vantagem competitiva significativa. Mais do que proteger sistemas, essa abordagem cria confiança com clientes, parceiros e investidores.

Como líderes de tecnologia, o desafio é garantir que o entusiasmo pela inovação não seja comprometido por negligência em segurança. Equilibrar os avanços tecnológicos com uma postura de cibersegurança sólida será a marca das empresas líderes no futuro.

O momento é de investimentos em IA defensiva, implementar práticas de governança de dados, fomentar o uso responsável de IA e criar um ecossistema seguro para garantir um crescimento sustentável.

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não expressam, direta ou indiretamente, as opiniões do IRB(Re).

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